quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Teatro


Assim como ocorria com o cinema, a renovação estética no teatro ligava-se não só à temática, mas também à forma de encenação. Com um despojamento semelhante ao do cinema, o novo espetáculo teatral se fazia sem cenários, num palco no centro da platéia, impondo maior entrosamento entre atores e público. A interpretação e a temática eram igualmente mais realistas. A introdução desse tipo de experiência no Brasil coube ao Teatro de Arena de São Paulo, que foi criado em 1953 já com uma disposição cênica distinta da que se usava até então. A arena, com os atores no centro da sala e o público em redor, implicava não só uma redução do espaço físico teatral, mas também o menor custo dos cenários. Já em meados da década de 50, juntamente com o Teatro Paulista do Estudante, o Teatro de Arena passou a privilegiar a abordagem dos problemas sociais e políticos, num esforço de conscientização e de criação de um teatro popular, abolindo definitivamente a interpretação pomposa em prol da representação mais realista. Trazer para a cena a realidade brasileira, encenando textos da dramaturgia nacional, contrapunha-se ao que fazia o Teatro Brasileiro de Comédia, que produzia espetáculos caros com uma dramaturgia que não expressava os problemas nacionais, dirigida às classes média e alta da sociedade. Romper com esta temática e a forma convencional de representação teatral foi também um dos objetivos do Grupo Oficina (que distinguiu-se por ter absorvido, na década de 60, toda a experiência cênica internacional e foi nele que se lançou na cultura brasileira o que ficou conhecido como Tropicalismo) formado em 1958 por universitários da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, em São Paulo. Apesar das propostas distintas que orientavam os dois grupos, tanto o Teatro de Arena quanto o Oficina, liderados respectivamente por Augusto Boal e José Celso Martinez Corrêa, desenvolveram suas experiências em sintonia com o teatro de vanguarda norte-americano e europeu e com a dramaturgia do alemão Bertold Brecht. Ainda nesta mesma época, novos autores surgiriam na dramaturgia brasileira, voltados para uma temática nacional, como foi o caso de Oduvaldo Viana Filho (Vianinha) e Gianfrancesco Guarnieri. O desenvolvimento das questões colocadas por esses grupos e esses dramaturgos teve importantes e variados desdobramentos para o teatro brasileiro nas décadas seguintes, tanto no que dizia respeito à conscientização popular e ao esforço de atingir um público amplo, quanto à possibilidade de aprofundamento das questões de caráter estético. A partir do final dos anos 50, a orientação do TBC, de dar prioridade a textos estrangeiros e importar encenadores europeus, é acusada de ser culturalmente colonizada por uma nova geração de atores e diretores que prefere textos nacionais e montagens simples. Cresce a preocupação social, e diversos grupos encaram o teatro como ferramenta política capaz de contribuir para mudanças na realidade brasileira. O Teatro de Arena, que com seu palco circular aumenta a intimidade entre a platéia e os atores, encena novos dramaturgos - Augusto Boal ''Marido magro, mulher chata'', Gianfrancesco Guarnieri ''Eles não usam black-tie'', Oduvaldo Vianna Filho ''Chapetuba Futebol Clube'' - e faz musicais como ''Arena conta Zumbi'', que projeta Paulo José e Dina Sfat. Trabalho semelhante é o de José Celso Martinez Correa no Grupo Oficina, também de São Paulo: além de montar ''Os pequenos burgueses'', de Gorki, ''Galileu, Galilei'', de Brecht, e ''Andorra'', de Max Frisch, redescobre ''O rei da vela'', escrito em 1934 por Oswald de Andrade, mas proibido pelo Estado Novo, e cria ''Roda viva'', do músico Chico Buarque de Holanda. Chico havia feito a trilha sonora para ''Vida e morte severina'', auto nordestino de Natal, de João Cabral de Melo Neto, montado pelo Teatro da Universidade Católica de São Paulo (Tuca) e premiado no Festival Internacional de Teatro de Nancy, na França.Os passos do Arena, de conotações nitidamente políticas, são seguidos pelo Grupo Opinião, do Rio de Janeiro. Seu maior sucesso é ''Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come'', de Oduvaldo Vianna Filho. No final da década de 60, novo impulso à dramaturgia realista é dado por Plínio Marcos em ''Dois perdidos numa noite suja'' e ''Navalha na carne''. Outros autores importantes são Bráulio Pedroso ''O fardão'' e Lauro César Muniz ''O santo milagroso''. Na década de 70 a censura imposta pelo governo militar chega ao auge. Os autores são obrigados a encontrar uma linguagem que drible os censores e seja acessível ao espectador.

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